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Elisa Vilaça
 
Elisa Vilaça tem sempre coisas para contar. Vinte e cinco anos a trabalhar em Macau como Educadora permitiram-lhe conhecer uma nova filosofia de vida e desenvolver algumas das suas vertentes artísticas: joalharia, pintura, cerâmica e maior de todas as paixões, as marionetas. Com mais de três centenas e meia de bonecos em casa, anda à procura de parceiros para concretizar o sonho de um Museu da Marioneta. Nesta conversa ainda se fala das suas experiências com a morte: uma meningite tratada num velho hospital chinês e uma certa onda gigante na Tailândia.
 

FL – As marionetas são a tua maior paixão?

EV – A história das marionetas começou em miúda de eu me lembrar de ver uns espectáculos na praia, com uns robertos e gostar imenso desses bonecos. Como eu era filha única, no meu período de tempo de brincadeiras não tinha muitos amigos, vivia na cidade, era mais difícil o contacto com crianças, eu gostava muito de bonecos e comecei a imaginar como é que poderia fazer uns bonecos e lembro-me que, no quarto, abria a porta do guarda-vestidos e eu punha uma espécie de lençol lá, punha uns bonecos e fazia umas teatradas.

Entretanto, tinha uma avó materna que vivia na aldeia e que era muito carinhosa com os netos. Era muito criativa e começou-nos a fazer uns bonecos com umas barbas de milho, com uns restos de trapos que tinha e fazíamos umas matrafonas com isso. Eu comecei a utilizar nessas brincadeiras as minhas bonecas. Posteriormente, atendendo à minha vida profissional (formei-me como Educadora de Infância) achei que as marionetas tinham um grande impacto na sua aplicação com as crianças, a todos os níveis. Muitas vezes, crianças muito fechadas em si, com problemas, que nós tínhamos dificuldade em dialogar directamente com elas, extravasavam toda a situação através dos teatros que faziam na escola com os bonecos.

 

Na altura em que me formei o curso era só um bacharelato, e eu posteriormente resolvi fazer a minha licenciatura porque em 82 fui para Macau trabalhar. Quando fui para Macau trabalhar como Educadora de Infância (onde estive vinte anos) deparei-me com a situação de ter crianças chinesas.

Eu não falava chinês, numa fase inicial, e tinha um contexto de crianças chinesas, por isso o diálogo com elas era extremamente limitado, se bem que a minha função como educadora fosse ensinar a Língua Portuguesa. Comecei a utilizar as marionetas e tive um grande resultado com os bonecos. Eles próprios criavam bonecos, eu fazia outros, muitas vezes tínhamos bonecos que, no fundo eram a mascote da sala e que trabalhava com eles durante o ano.

Começo a constatar, a certa altura, que o tipo de actuação destas crianças com as marionetas era interessantíssima porque, independentemente da língua, do local onde se estava, do país, da cultura, todas as crianças de todas as culturas, raças, nacionalidades, reagiam exactamente da mesma forma.

 

Eu achei que era um diálogo universal para todos eles. Quando faço a minha licenciatura faço um projecto final sobre marionetas, “O fantoche no jardim-de-infância: como, porque e para quê”. Desenvolvi um projecto de investigação nessa área que durou quatro anos mas a minha investigação já vinha de antes e quando surgiu a Internet foi um campo aberto sem fim, contactos com uma série de manipuladores, marionetistas de diferentes países, a aquisição de bastante bibliografia sobre a origem das marionetas nas diferentes partes do mundo e comecei também a coleccionar marionetas, para além de construir as minhas próprias marionetas.

Em 96 crio um grupo de trabalho, constituído por cinco pessoas e começo a fazer a divulgação da cultura mais tradicional portuguesa, que eram os robertos, e participámos ainda numa série de festivais internacionais de marionetas na Tailândia, onde fomos representar num primeiro ano Macau (dado que eu vivia lá) e nos anos seguintes fomos representar Portugal, sempre com sketchs sobre a tradição portuguesa. Tive bastante sucesso com o que se fez, foi bastante interessante e continuei a coleccionar os meus bonecos, a fazer alguns e neste momento tenho como perspectiva criar um museu. Como, não sei, mas hei-de criá-lo?

FL – O que é que te falta para conseguires concretizar esse sonho do museu?

EV – Falta-me um espaço, essencialmente, porque ao nível dos bonecos em si (embora ainda seja uma colecção muito limitada, irá em cerca de trezentos e cinquenta bonecos, representando vários países e regiões, especialmente a parte asiática, diferentes tipos de manipulação, de vara, de luva, de sombra, com acompanhamento de uma investigação profunda) por isso acho que já se consegue fazer alguma coisa com o que tenho de colecção e com alguns que me são cedidos de colecções particulares, falta-me o espaço e a organização desse espaço.

Não seria um espaço de museu em termos tradicionais, seria a criação de um espaço que fosse aberto e que fosse pedagógico, essencialmente. Teria a parte de exposição mas para alem disso teria a componente pedagógica, ou seja, poderem-se deslocar escolas a esse espaço para, para além de verem a exposição, poderem aprender a confeccionar diferentes tipos de bonecos (desde os mais simples feitos com jornal e fita-cola até aos mais elaborados), terem um espaço para poderem dramatizar aquilo que é feito e terem a possibilidade de, as próprias escolas, terem uma espécie de malas-pedagógicas para poderem requisitar, que podem levar e explorar. Tudo isso será acompanhado por cassetes, cds, toda a informação, cada maleta específica estará acompanhada do respectivo material.

FL – Com certeza com alguma formação específica para os próprios professores… Apesar de ser um material utilizado com alguma frequência pelos professores e pelos educadores, acaba por ser algo cujas raízes são um pouco desconhecidas…

EV – Felizmente, penso que se começa a ter uma ideia diferente sobre o que é a marioneta em si porque foi tido sempre como uma arte menor. Primeiro porque inicialmente os bonecos eram confeccionados por artesãos, pessoas que não tinham uma formação científica mas tinham uma riqueza cultural que era a maior a ser transmitida.

Em Portugal houve, felizmente, pessoas que se preocuparam muito com isso, concretamente o João Paulo Seara Cardoso do Teatro de Marionetas do Porto, lá em baixo o Teatro de Marionetas de Santo Aleixo (que conseguiam que alguns mestres lhes transmitissem uma ideia e como as coisas eram feitas e eles pudessem continuar essa tradição). Eu considero que, neste momento está a acontecer uma viragem nesse sentido porque, no fundo, as novas tecnologias vieram contribuir para que o espectáculo (que era normalmente pequeno, com um ou dois manipuladores, que se transportava de praça em praça) se transformasse.

As marionetas surgiram (em Portugal, na Europa, na Ásia), por uma transmissão de cultura religiosa. Acontece que, em Portugal, com o Concílio de Trento, não é permitido fazer-se essa prática dentro das próprias igrejas e começa a haver uma divulgação pagã no meio disto tudo. Há uma mudança de objectivos e na Europa, concretamente, essa transmissão de um culto religioso apaga-se um pouco, o que não acontece na Ásia. Ainda hoje o culto religioso está extremamente agarrado e ligado às marionetas.

Em Java ainda agora se fazem espectáculos que chegam a durar vinte horas, mas no meio dos espectáculos as pessoas comem, bebem, conversam, meditam, porque toda a mensagem transmitida pelos bonecos é uma transmissão de princípios morais. Pensar sobre a vida, pensar sobre o que está correcto, o que não está, e ainda hoje isso continua a existir na Ásia, o que não acontece na Europa. Houve quase uma separação nesse aspecto, mas penso que continuará a ser uma arte importantíssima e que pode dar frutos para além do espectáculo em si, principalmente se ela for aplicada no contexto pedagógico, para a ultrapassagem de dos graves problemas que cada vez mais se agudizam.

No ensino cada vez mais lutamos com os problemas de crianças que vêm de outros locais, com culturas diferentes, de etnias diferentes, aceites ou não aceites na sociedade. Muitas vezes problemas como a Sida, a sexualidade, que são difíceis de serem abordados, porque continuam a ser um tabu, e muitas vezes através dos bonecos consegue-se fazer uma transmissão de determinados princípios, de determinados cuidados, porque no fundo não somos nós que estamos a trabalhar, são “eles” e por isso “eles” são aceites sempre.

 

FL – Uma das áreas pelas quais tu te divides é a joalharia. Como é que surgiu esse interesse?

EV – Eu considero-me uma pessoa privilegiada porque, há vinte e cinco anos quando fui para Macau, tive a possibilidade de contactar com outros povos, com outras culturas, com outra maneira de ser. Isso para mim é muito importante, gosto de viajar e de conhecer, viajar com uma mochila e conviver com as pessoas, contactar com elas.

Quando cheguei a Macau estava dentro de uma cultura completamente diferente e tentei perceber, logo de início, determinados comportamentos das pessoas. Pude inserir-me nas diversas áreas culturais e numa escola de artes desenvolvi várias áreas: fiz escultura, fiz gravura, fiz serigrafia, com grandes mestres e tive a possibilidade também de fazer joalharia.

Tive um curso durante dois anos e quando acabei o curso resolvi montar o meu próprio atelier onde comecei a trabalhar e onde, há cerca de quinze anos, faço joalharia com diferentes materiais. Utilizo o ouro e a prata mas faço uma série de combinações com outros materiais não-nobres, desde a ardósia às pastas de papel, desde pedras semipreciosas mas brutas, não sendo trabalhadas, com raízes…

 

FL – O artista consegue sempre sair beneficiar quando sai do país e contacta com outras culturas?

EV – Acho que sim, porque o contacto com outras culturas é sempre enriquecedor. Através do cruzamento de muitas destas culturas nós vamos criando uma arte muito nossa, muito própria. Se eu não tivesse tido a possibilidade de contactar ter-me-ia limitado a um tipo de trabalho um pouco diferente. Uma coisa é o conhecimento teórico, a investigação que fazemos sobre as coisas mas no campo nós conseguimos constatar pequenos segredos e eu acho que tendo a possibilidade de juntar a teórica e a pratica isso é realmente enriquecedor.

FL – E a cultura oriental é algo de verdadeiramente extraordinário, de uma riqueza enorme…

EV – Completamente diferente, não tem nada a ver com a nossa cultura. Não será fácil de entrar nela porque não é em meia dúzia de meses que se consegue perceber determinadas coisas. São necessários anos e anos para se poder perceber um pouco do que é a cultura asiática, porque os padrões são diferentes, os objectivos são diferentes, a própria maneira de analisar uma obra de arte é completamente diferente.

Eu fiz um curso de pintura chinesa e aprendi dentro dos moldes tradicionais, completamente diferentes, desde a forma como se pega no pincel, a forma como se movimenta, o tipo de papel, os materiais que se usam. A certa altura entrei na parte de desenhar caracteres e a certa altura tive necessidade de dizer que ia desistir porque para desenhar os caracteres tenho de saber o que estou a desenhar, a escrita chinesa é uma escrita ideográfica, transmite uma ideia, um conceito e eu a copiar os caracteres sem saber o que eles queriam dizer era um pouco complicado.

FL – Uma espécie de monge copista…

EV – Aí é que está! Ainda hoje, na tradição chinesa, o grande pintor não está no facto de criar uma obra. A primeira fase para ele conseguir atingir uma posição de respeito, uma posição hierárquica, tem a ver com a capacidade de copiar. Quando ele consegue copiar uma obra de um determinado mestre e se põem as duas obras em confronto sem se perceber quem é o mestre e quem é o aluno, aí ele atinge um grande ponto, já está num nível elevado. Por isso a cópia continua a ser importante para eles.

Mas não é só, porque eu olhava para as pinturas chinesas, principalmente em papel de arroz com tinta-da-china, e eu não conseguia perceber porque é que eles olhavam para aquilo e achavam uma peça tão bela. Fiz uma pós-especialização na área da pintura chinesa e uma das coisas que fizemos foi, com um mestre chinês visitarmos exposições. A certa altura, falar com esse mestre, ele dizia-me “Diz-me lá, o que é que tu vês ali, o que é que tu encontras naquela pintura?” e eu respondi que via as montanhas, as árvores, vejo um pôr-do-sol… E ele continuava “Mas que mais é que tu vês?” e eu já tinha dito tudo o que estava ali pintado. A certa altura ele disse-me “Não vez mais nada?”. E eu disse “Não, não vejo.”. Ele respondeu que “Enquanto não vires para além daquelas montanhas, para além daquelas árvores, a beleza que está, a tranquilidade, sentires o murmurar da água do riacho, conseguires sentir o cheiro das flores, enquanto não conseguires atingir isso nunca iras compreender o objectivo da pintura chinesa”.

Por isso é uma análise completamente diferente mas eu acho que é uma maravilha, são culturas com as quais teremos que aprender muito.

FL – Há neste momento uma moda de descoberta do mundo oriental. Como é que vês isto, porque é que achas que, de repente, surge este apetite não só pelo sushi mas uma série de coisas que nos permitem fazer sentir um pouco melhor?

 

EV – Eu penso que isso está realmente a acontecer mas se recuarmos um pouco na História isso aconteceu no séc. XVI com os Descobrimentos portugueses. Uma das coisas que fascinou os portugueses foram as maravilhas da Ásia e, por isso, tudo o que era exótico era trazido, era guardado, havia colecções de grandes reis que tinham tudo o que era exótico.

Hoje acontece de novo um interesse por tudo o que é exótico e pelo que é asiático por várias razões. Primeiro porque há uma abertura enorme a nível das viagens. Viajamos muito mais rapidamente e “viajamos sem viajar”, a Internet abriu tudo. Nós temos acesso a qualquer parte do mundo, estando sentados numa cadeira, sem precisar de sair.

 
O segundo é um factor económico, tem tido um peso muito grande com o comercio e a aquisição de produtos que vêm de uma Ásia com mão-de-obra muito mais barata, todos os princípios deles são diferentes dos nossos, os objectivos de vida são diferentes e as pessoas começam a ter possibilidade de adquirir uma série de coisas que gostariam de ter há uns anos atrás mas que não tinham acesso a elas e agora começam a ter. É a globalização…
 

FL – Queria fazer-te uma pergunta mais pessoal e que tem a ver com umas experiências em torno da morte…

EV – Foram algumas experiências que tive… Nós costumamos dizer que há uma luzinha que nos ilumina e uma das coisas que tenho é realmente um grande respeito pela morte, mas não é uma coisa que me intimide de falar ou que tenha medo. Já passei por algumas situações caricatas e outras um pouco mais complicadas.

A primeira situação que eu tive foi numa situação em que adoeci, de um momento para o outro, numa viagem precisamente à China. Ninguém sabia o que é que eu tinha e em vinte e quatro horas entrei numa situação de coma profundo provocado por uma meningite. Fiquei internada num hospital, no meio da China, com um tratamento europeu, dentro de um hospital da 1ª Guerra, sem condições mas com uma relação humana de um carinho e de uma atenção pelo povo chinês que eu nunca mais na vida poderei esquecer.

Foram pessoas que me trataram com amor, com carinho, desde os médicos às pessoas que sabiam que estava um estrangeiro internado e se apercebiam da doença que eu tinha vinham trazer tudo o que era possível para me poder curar. Recuperei do coma com uma cegueira total e depois consegui recuperar na totalidade.

A sensação que uma pessoa tem, de começar a perder tudo o que é da sua vida, deixar de se poder mexer (porque a parte muscular deixa de funcionar), de querer falar e já não conseguir, das vozes das pessoas que estão perto cada vez se afastarem mais, o perder a noção da cor que passa a um preto e branco meio difuso e a sensação de que estamos a entrar numa espécie de túnel que nos faz sentir como que a ser sugados, é uma sensação estranhíssima, estranhíssima.

FL – Marcante…

EV – Muito mesmo porque, quando se recupera é a maior alegria que se pode ter.

FL – Olhas o mundo de uma maneira diferente…

EV – Completamente diferente. Quando se recupera de uma situação destas é que realmente se tem consciência de que a vida é extremamente importante e nós cada vez mais nos preocupamos com coisas fúteis, materiais, entrarmos às vezes em discussões sem sentido e eu acho que passei a ver o mundo de uma forma diferente, a ser muito mais condescendente com uma série de coisas. Passei a reflectir muito mais sobre as coisas, antes de agir…

 

FL – E depois, um dia, está tudo calmo e vem uma onda…

EV – (risos) Numa situação mais recente foi o estar a passar férias numa praia em Puckhet, na Tailândia, num dia maravilhoso, dia 26 de Dezembro de 2004, estar a ler uma revista e aperceber-me que de um momento para o outro o mar desaparece. Eu tinha o mar a três ou quatro metros dos meus pés e de repente desaparece, os barcos que estavam no mar passam a estar em terra, os tipos que andam a fazer pesca submarina ficam com os pés na areia, completamente admirados, uma situação estranha.

Inicialmente até pensei que fosse relacionado com marés e com a lua e achei que deveria vir a água novamente mas quando não sabia. Passados uns minutos apercebi-me que o mar estava novamente a vir, não se formou propriamente uma onda mas foi um encher constante, rápido, água a subir e que eu pensei que se chegasse ao sítio onde eu estava deveria parar mas não parou.

Por isso, a única coisa que tive de fazer foi correr e fugir. Corri eu, o meu marido, um cunhado e uma cunhada. Corri pela primeira rua que me apareceu à frente, onde passava todos os dias mas onde nunca tinha ido até ao fundo. Quando cheguei ao fundo era uma rua sem saída e eu estava nas traseiras de um hotel com um muro que corresponderia a uns quatro andares. Por segundos pensei que não ia conseguir sair dali mas como sou muito optimista pensei para onde é que podia ir. Havia uma porta de madeira nesse muro, com ar de não ser utilizada há muito tempo, dei um encontrão e apercebi-me que aquilo tinha uma escada de emergência que daria acesso a um terraço desse hotel. A escada numa devia ter sido usada, estava cheia de ferrugem e eu comecei a gritar, devo ter inventado cinquenta línguas nesse momento para dizer que havia ali umas escadas e fui a primeira a subir essas escadas com a minha cunhada atrás e uma série de pessoas que entretanto se começaram a juntar ali e a berrar porque a aflição era muita.

Quando cheguei o cimo das escadas deparei-me com um telhado, uma espécie de lusalite e quando saltei para o telhado ele partiu-se e eu enfiei-me pelo telhado dentro. Mais uma vez tive sorte porque estas placas eram fixadas numas estruturas de cimento e consegui ficar com uma das estruturas debaixo de um braço e por isso não caí. Se tivesse caído teria ficado logo morta lá em baixo. Consegui subir, puxar o corpo para cima, estava bastante cortada, principalmente nas pernas, estava a sangrar. Consegui pensar um pouco, deitei-me sobre o telhado, rolei até à ponta dele e quando lá cheguei a altura era muita, tinha uma espécie de rampa e só água por todos os lados. Pensei “salto ou não salto” mas gritaram-nos que estava tudo cheio de cabos eléctricos.

Então tentámos ir até ao outro extremo do telhado e como era em declive a água ainda não tinha chegado e por isso começamos a pensar que teríamos de saltar. Mas seria saltar o equivalente quase a dois andares, não era propriamente um saltinho. Começamos a ouvir vozes a dizer que vinha uma onde de vinte metros e por isso pensei que tínhamos de saltar. Lá saltamos, felizmente não houve problema nenhum, só que o sítio para onde saltamos estava trancado a cadeado porque eram as traseiras de um outro hotel, onde guardavam toalhas, as roupas das camas…

Nós tínhamos solução para sair dali e por isso começamos a empilhar os sacos para tentar subir para uma varanda, equivalente a um primeiro andar. Passados uns dias voltei a esse local e ainda hoje estou para saber como é eu consegui, num salto, ficar agarrada às grades da varanda e conseguir subir. O que é certo é que consegui.

 
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